Um dia, Paul Valéry passeava no Louvre com o seu amigo Degas e detiveram-se frente a uma tela de Henry Rousseau, que representa uma "alameda de carvalhos enormes":
"Depois de um tempo de admiração, observei com que consciência e paciência o pintor (...) executara o detalhe infinito (...):
- É soberbo - eu digo (a Degas) - mas deve ser tedioso fazer todas essas folhas... deve ser até muito chato...
- Cale-se - diz Degas - se não fosse chato, não seria divertido.
O facto é que ninguém mais se diverte nessa forma laboriosa, e eu só traduzira ingenuamente a repugnância cada vez maior dos homens por todo o trabalho de aspecto monótono ou que deve ser realizado com actos pouco diferentes e longamente repetidos. A máquina exterminou a paciência.
Uma obra era, para Degas, o resultado de uma quantidade indefinida de estudos e, depois, de uma série de operações. Acredito que ele pensava que uma obra nunca pode ser considerada terminada, e que ele não concebia que um artista pudesse rever um dos seus quadros depois de algum tempo sem sentir a necessidade de retomá-lo e de pôr de novo a mão. Acontecia ele retrabalhar telas há muito tempo penduradas nas paredes da casa de seus amigos, levá-las para o seu antro, de onde elas raramente voltavam. Alguns, de cuja casa era frequentador, chegavam a esconder o que tinham dele."
(PAUL VALÉRY, "Degas Dança Desenho", 1938)
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