lugar do texto

Revisão de textos académicos, literários e técnicos
Produção de conteúdos de escrita
(letras de canções, slogans publicitários, discursos de homenagem, biografias, etc.)

VERA DE VILHENA
(autora, revisora de texto, coordenadora de oficinas de escrita criativa, vencedora do Prémio Revelação APE/Babel)

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"Uma grande surpresa, tanto na composição como na escrita. Compôs e escreveu duas canções que me assentam como uma luva. Fonte de delicadeza e elegância, assim defino a Vera de Vilhena, como pessoa e como artista."
RITA GUERRA

quinta-feira, 22 de março de 2012

É assim....

"É assim: este é um texto sobre bengalas e tiques linguísticos, tipo, estás a ver, ok, então vá. A situação é um bocado esta, as pessoas, quer dizer, enquanto falam e isso, usam por tique algumas palavras e expressões, que não servem para nada de especial, tipo, habitaram-se a falar assim, e, portanto(s), falam. A modos que, longe de mim querer ofender alguém, porque, ai ai ai, ui ui ui, no melhor pano cai a nódoa, percebes, naquela... Pronto(s), é assim, mesmo quando não estou nem aí, como quem não quer a coisa, posso incorrer num desse tiques um bocado foleiros, mas isso sou eu, claro está. Eu cá na minha maneira de pensar acho que as pessoas usam estas frases, à falta de melhor ideia, numa onda de preguiça mental, tipo: é mais fácil falar assim. Ou seja, uma questão de hábito, porque, alegadamente, as palavras são aos magotes e pronto, dá mais jeito usar apenas algumas que ficam no ouvido; giro. A cena é que, quer dizer, esta é a minha opinião pessoal, ele há frases que se dizem sem pensar e que, digamos, podem ser ditas de outra maneira ou não. Mas, pronto, é mais prático dizer pronto, para pôr o pronto final a uma conversa e dar razão a alguém, só para a malta não se chatear. Estás à vontade. Então, dizer 'é assim' é uma forma de fazer com o outro sintonize - estás-me a acompanhar? - só para chamar a atenção, mas há quem diga é assim um bocado imenso. É totalmente surrealista dizer 'um bocado imenso' e não sei quê, tudo e mais alguma coisa é totalmente surrealista para algumas pessoas. Então está bem, como toda a gente sabe, tiques linguísticos é coisa que a todos assiste, hã? Isto não faz qualquer espécie de sentido, na boa, a sério? Eu cá sou daqueles que também tem os seus, mas isso é cá comigo. Não sei se estão a acompanhar a minha linha de raciocínio, mas o que eu quero dizer com isto é que, tipo, alguma destas expressões quando usadas em excesso incomodam mais do que, sei lá, vou ser polémico, um sobrolho nervoso que não para de tremer. Estão a ver o filme? Ora bem, é surrealismo puro, as cenas que as pessoas dizem só por dizer, é de partir o coco a rir, 'tá-se bem, o caraças, até dói. Que stress, já me estou a passar, o texto está quase a chegar ao fim, e eu ainda tenho ene cenas sobre as quais queria escrever e coisa e tal. Só que... olha, para o que me havia de dar, ufa, se a memória não me falha, no meu tempo, tipo, estás a ver, ok, sei lá, pronto, então vá. Percebeste?"  
(MANUEL HALPERN, "Homem do Leme: É assim, prontos, então vá, in revista VISÃO, Março 2012)

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