(Por MANUEL ALBERTO VALENTE, director editorial da Porto Editora, em Lisboa)
«1. Nunca mande o seu original pelo
correio. Entre os 36.427 originais que chegam todos os meses às editoras, o seu
vai certamente ficar perdido dentro de um armário e merecerá apenas, alguns
meses depois, uma simpática carta de três linhas a explicar que “por imperiosas
razões de equilíbrio editorial”…
2. Não mande
nunca o seu original por e-mail.
Você acha que um editor vai gastar várias dezenas de folhas de papel A4 para
imprimir cada um dos originais que recebe?
3. Não diga nunca que o seu original vai modificar (ou
revolucionar) a literatura portuguesa. As feiras de saldos estão cheias de
livros que se apresentaram com esse propósito – e os editores não esquecem.
4. Saiba procurar uma editora adequada àquilo que escreveu e
suficientemente pequena para reparar em si – a maior parte das outras tem à
porta, como nos hotéis, um letreiro que diz “completo”. Não é fácil arranjar um
quarto livre…
5. Procure, se possível, a ajuda de um “notável”. Se o seu
original vier “recomendado”, é evidente que as hipóteses aumentam.
6. Nunca diga que está disposto a partilhar os custos da edição.
Isso é quase sempre sinónimo de que o seu original é mau…
7. Apresente um currículo escrito em português decente. Se logo
no currículo diz que escreve “à vários anos”, nenhum editor o vai levar a
sério.
8. Nunca diga que é discípulo do Lobo Antunes ou do Saramago.
Bastam os originais.
9. Não mande poemas em que “amor” rima com “dor” e “saudade” com
“idade”. Candidate-se antes aos Jogos Florais da câmara mais próxima.
10. E sobretudo não diga que quer ser publicado amanhã, nem fale
em rebuscados planos de promoção. Espere humildemente pela sua vez.»